Abaixo colocamos a disposição de nossos usuários algumas fotos antigas de Saracuruna, Jardim Primavera e Cangulo. As cópias estão autorizadas, pedimos por favor que cite a fonte para valorizar nosso trabalho de pesquisa. Em nosso acervo há muitas outras, que podem ser acessadas livremente.
Entrada de Jardim Primavera - 1957 |
Um dos primeiros carros da TREL a circular pelo Cangulo |
Lendário "34" que rodou por décadas no Cangulo |
Estação de Jardim Primavera - 1982 |
Praça da Estação de Jardim Primavera - ao fundo a velha passarela - 1980 |
Centro Educacional Brasil - CEDUBRÁS - Saracuruna - 1978 |
Antiga Lagoa no Cangulo - 1986 |
Entrevista com D. Liberalina, umas das moradoras mais antigas do Cangulo.
4ª Entrevista
Entrevista com a Sra. Liberalina de Oliveira Santos
1 - Estamos fazendo uma pesquisa, e pra isso estamos entrevistando as pessoas que há muito vivem aqui, pois os relatos de pessoas como a senhora, são importantes. A senhora lembra o ano que a senhora chegou aqui?
2 - Quando eu vim para essa lugar aqui, o Celinho tava com ??? anos, meu filho mais novo. (neta: “Meu tio deve ta com uns quarenta agora). Que quando eles estavam no meu poder, é deve ta com uns quarenta.
1 - A senhora está aqui há mais de trinta anos?
2 - Tem mais de trinta anos (neta: a foto que o meu pai tem é de 68, eles devem ter chegado aqui em cinquenta e pouco, 55). Não tinha nada, aqui não tinha nada. Aqui era um caminho cheio de lama, não tinha Ana Clara, era mato pra tudo quanto é lado, não tinha luz, não tinha ônibus.
1 - A senhora veio com quem? Seu marido e quantos filhos?
2 - Nove filhos.
1 - Todos eles cresceram aqui?
2 - Não, alguns já vieram... vieram Irene, Carlos...
1 - Como a senhora veio parar aqui?
2 - Meu esposo trabalhava na Rede, na Leopoldina, né, então nós morava em Nova Friburgo, aí aquela linha lá acabou, né, aí ele teve lá, o moço da linha mandou que a gente viesse aqui pra baixada, aí eles falou que ia acabar aquilo ali, e acabou mesmo, não tem mais nada. Aí que mandaram a gente pra outro lugar. Ele veio trabalhar aqui e conseguiu a aposentadoria dele aqui, mas veio de lá porque lá acabou, aí passou para aqui pra baixada.
1 - A senhora veio pra essa casa que a senhora tem hoje?
2 - Não, a casa que eu vim pra aqui, foi uma casa que meu marido veio na frente um ano, aí a gente ficou lá. Ele veio aqui ver como era, veio pra cá, trabalhou aqui e ficou vendo um lugar pra colocar a família, disseram pra ele pra ele mudar, um lugar pra ele poder botar a família. Porque tinha bastante criança, tinha filhos, né. Aí ele veio, ficou um ano trabalhando e nós ficamos lá. Aí deram um mês pra ele mudar de Barão até Magé, pra procurar um lugar pra onde ele podia botar, né, onde podia botar nós. Então eles deram pra nós morar em Madureira, mas aí ele falou não, eles deram pra gente morar na Estação de Madureira, mas aí falaram que ele tinha um mês pra achar um lugar pra botar sua família. Aí ele andou de Barão até Magé a pé cada estação. Ele veio agradar mesmo aqui em Saracuruna, ele achou que Madureira tinha muita criança, aí ele andou e achou Saracuruna.
1 - E aqui já se chamava Saracuruna? A senhora lembra a primeira casa que a senhora morava?
2 - Essa rua aqui mesmo direto aqui, ele veio primeiro, ficou meio assim, mas ficou sozinho trabalhando, aí o chefe falou: “o senhor vê a casa e traz sua família.” Ali já tinha a fazenda Alegria, seu Geraldo, a filha dele. Hoje é apertado, né. Então nós moramos ali, nessa rua aqui era caminho, não tinha nada aí, hoje isso aqui ta uma cidade, lembro daquele trilho, não tinha luz, não tinha aquele caminho, com o tempo eles vieram eles vieram abrindo isso aí, né, não tinha mais caminho, era tudo brejo, tudo brejo. No conjunto vocês vê aquelas casa ali, não tinha era tudo brejo, vi as pessoas colocar duas casas, tava uma trabalhada da Petrobrás com a companhia, porque separavam aquilo ali para fazer casa, e foram fazendo casa, aí a fizeram duas casas, as duas casas ficaram parada a anos. Porque aquele terreno tinha dono e o dono queria atrapalhar, só sei que acabou pagando, mas tinha só duas casas, antes não tinha nada, Hoje é cheio de casa, mas não tinha nada.
1 - Quando a senhora chegou aqui, a senhora lembra o nome das famílias que já estavam aqui?
2 - Quem já morou aqui, morava, né, porque muitos morreram, Seu Augusto que era colega de trabalho ?? , alguns homens trabalhavam na rede
1 - A senhora conhece D. Margarida, a que mora aqui na rua de trás?
2 – Ela já morava aqui, as crianças dela, ajudamos muito com o Mário, essa menina que ta aí ajudou eles. O que a gente faz só Deus manda né. Todos aqueles filhos da D. Margarida ela tem, tem muito tempo aí
1 – Quando a senhora veio pra cá, já tinha todos os filhos da senhora?
2 – Quando a gente veio pra cá...
1 – Como que seus filhos faziam pra estudar? Tinha escola aqui na época?
2 – Só tinha em Saracuruna, perto da Igreja católica, tinha um outro colégio grande perto da Dona Lurde (neta: aquele perto da casa da v ovo Júlia). Qual foi o colégio que o Celinho estudou? (neta: ele fala muito do Sarah) Manelinho estudou em outro colégio... Tinha uma escolinha assim, ele sabe onde, na época em que viemos pra aqui.
1 – A senhora conhecia as pessoas que moravam mais pra dentro?
2 – Seu João, sua família vai falar do seu Afonso.
1 – Quando alguém passava mal a senhora levava pra onde?
2 – Caxias, Magé de trem, já tinha trem, né, vagão de madeira laranjinha.
1 – Funcionava direito?
2 – Naquele tempo tinha trem direitinho, hoje que não tem, né, naquele tempo tinha.
1 – O Senhor pegava pra Campos?
2 – Não, mas pra Magé me lembro bem, que íamos muito pra Magé. Me lembro que tirava os documentos dos meus filhos lá.
1 – Pra Saracuruna ia a pé mesmo?
2 – Não tinha ônibus.
1 – A senhora lembra do ônibus quando começou a rodar pra cá?
2 – Não, assim não, é muitos anos.
1 – A senhora não tem obrigação, não. A senhora lembra como era o ônibuso, como as pesoas receberam?
2 – Foi melhor, né. Não tinha condução, não tinha ônibus, não tinha nada, foi uma benção, nem tinha o Ana Clara, não tinha.
1 – Quando a senhora chegou aqui, tinha alguma igreja aqui?
2 – Não tinha, Saracuruna tinha, aquela Igreja só em Caxias.
1 – Igreja Evangélica?
2 – Não
1 – O que as pessoas faziam pra se reunir, divertir? Alguma festa? Encontro com os vizinhos?
2 – Acho que já tinha os bailes aí. Festa na rua... é, mas festa não tem não. Na Igreja tinha... Depois que começou, né, dando jeito na estrada, né, sempre falando... falando...sempre custou muito pra, pra preparar a estrada. Depois da estrada veio o ônibus. Demorou muito pra resolver essa causa.
1 – Fora os homens que trabalhavam na rede, o que mais eles faziam?
2 – A maioria trabalhava lá pra baixo mesmo...
1 – E as pessoas no cotidiano, como era, fazia o que?
2 – Não tinha muita coisa pra fazer, não tinha nada, o que a gente tinha que fazer era ir pra roça. Era a única coisa que tinha, ia trabalhar, os meus filhos todos ia pra roça, foram trabalhar desde que cheguei nesse lugar. Minhas primas falaram que ficaram com uma pena da gente vir pra baixada, eles falaram que era uma pena. Assim que viemos pra cá nem era casa, eram dois cômodos apertado, e ficou embolado lá, tinha que arrumar um lugar pros meus filhos trabalhar, meus filhos não deu trabalho, como hoje eu vejo as mães, né. Vejo a luta de muitas. Andamos por essa baixada aí, achamos logo uns colegas de roça. Essa parte pro outro lado, era cheio de planta, e logo achamos umas pessoas muito bacanas que perguntamos onde podíamos arrumar um canto pra botar uma horta. Tinha o Renato com um barraco cheio de planta que logo ele pegou dois filhos meu, foi Carlinho e José que foram lá ajudar a ele e foi ver se dava uma limpeza num pedaço de terreno pra ajudar nós, né, pra botar os filhos pra trabalhar. Fizemos um caminho de roça e fomos pra lá. Quem é que tinha que ir pro colégio, enquanto não ia, ia pra lá (roça) não tinha tempo de brincar. Eu não deixava não.
1 – Como era a produção? Todos comiam da colheita de lá.
2 – Se colhia? (neta: eu cresci comendo de lá) é uma pena hoje não usarem, ta lá aquele terreno grande lá...
1 – Falo isso, porque minha vó sempre plantou, tem quiabo, jiló, alface, amendoim... e logo mais pra frente eu tomava banho no rio...
2 – A água era limpinha, que os meninos ia pegar uns peixinhos, a água era clarinha, hoje a água é suja, preta, acabou com tudo, né.
1 – A senhora plantava, mas a senhora comprava alguma coisa? Tinha onde comprar alguma coisa aqui perto?
2 – Não, não tinha nada aqui, era mais caseira, como diz de casa. Era de casa pra roça, fazia faxina, lavei roupa. Vinte anos lavando roupa na cidade, fazia faxina, trabalhei muito nesse lugar também, não faltava nada, meus filhos me ajudava muito. Quando tinha folga eles ia pra lá.
1 – A senhora chegou a pegar a enchente de sessenta e pouco?
2 – Olha, a gente olhava daqui só era mar.
1 – A senhora perdeu alguma coisa?
2 – Não, não perdemos nada... Naquela época nós tava com um “arrozaizal”, tudo cheio de arros, tudo maduro, nós ficamos preocupados, aí deu aquela enchente e a água deu até aqui, ó! Espantou muita gente, lembro que depois da enchente nunca mais voltou, muitos que moravam aqui, muitos saíram, abandonaram por causa da enchente e não voltaram mais. A enchente bateu mesmo. Fui ajudar as pessoas eu e meu marido, dentro do barco pra tirar as pessoas né, aí um dia... assim... A gente ficou da janela... e a casa da dona Holanda aqui e as coisas lá, tudo dentro da água... eu que fui fazer... ficar em pé da janela do barco. Eu não era fácil, fui subir na janela pra pegar uma touca, alguma coisa da dona, eu caí lá dentro, eu caí dentro do lago sujo, dentro de casa, olha que enchente. Aquela que tem lá na beira do rio lá, tadinhos a dona daquilo ali nunca mais voltou, a família grande, a água entrou pela janela, a mulher gritava, meu marido falou pra ela ir em direção do barco, aí foi pra lá tirar todos de dentro da água, aquela família nunca mais, tiramos e nunca mais. A mulher chorava, porque a água tomou tudo. Daqui a gente olhava era um mar. A gente olhava... AÍ pra todos lados era água, a gente ia de barco ver o arrolar, a gente balançava e não caía um arroz, não brotou um caroço, quando Deus ta no negócio é uma benção, ficamos preocupados, vai estragar o arroz. Me lembro que naquela época saco de arroz , um pessoal na época veio ajudar a soltar o arroz, pisaram no arroz não sabiam, foi muito arroz pelo chão, me lembro que colhemos seis sacos de arroz. Pegamos muito arroz pelo chão. Muito saco de arroz nós vendemos aqui nesse lugar.
1 – A senhora vendia nas casas?
2 – As pessoas vinham aqui, vendia seis sacos de arroz quebradinho, uma pessoa só, uma pessoa não me pagou, mas é muita raça de ano...
1 – O que mais dava? A senhora plantava?
2 – Batata doce, inhame, estragaram, mas o arroz não.
1 – A senhora tinha criação?
2 – Todos (risos) galinha, porco, tinha muito porco, matei muito porco... 31, 32.
1 – Tinha vaca?
2 – Não...
1 – A dona Margarida disse que comia muito tatu que pegava no mato, a senhora comia tatu? Cobra?
2 – Quem?
1 – Dona Margarida! Se a senhora for ver lá, tem um monte de bicho pendurado assim...
2 – A verdade é que tinha muito bicho mesmo, cobra então, aquelas preta e amarela, tinha muita, muita cobra mesmo...
1 – A senhora já ouviu das história que os bichos entravam nas casas das pessoas de madrugada, o lobisomem?
2 – Eu não.
1 – A senhora lembra da explosão da Petrobrás?
2 – Foi terrível, eu lavava e fazia faxina, só sei dizer que nesse dia eu tava dormindo, que quando acordei não tinha ninguém do lado.
1 – É verdade que o povo saiu correndo pelado na rua?
2 – Era gente pelado, gente sem perna, quando eu olho assim, aquela barulhada, olhei, morava em Campos Elíseos, minha casa tava vermelhinha, que eu olho pro chão, tava cheia de coisa preta, eu olho assim e não via ninguém, o pessoal lá fora e eu deitada. Quando eu vi aquilo, não tinha ninguém na minha casa. A Irena que tinha essa lojinha aqui na frente saiu, ela acompanhou o agente da estação com carro pegou a família e foi lá pra Petrópolis.
1 – O povo foi embora e deixou a senhora?
2 – Mas não ficou ninguém em Camos Elísios, como tinha gente doente. Saía levando o carro, tirando as camas, como tinha gente doente levando pra tirar... A gordura caindo. Veio bater cá na estação (Campos Elíseos) a gente só escutava aquele ta ta ta ta ta. A gente olhava assim tava tudo vermelho. Aí eu dizia pra mim... Aí eu encontrei com a mesma andando pra lá e pra cá no terreiro. Aí eu perguntei: “Anésio, cadê nossos filhos” “a não sei saiu por aí, desembestando, era as pesoas carregando outras doentes. O fogo ia queimando aí, a minha filha morava aqui nessa casa, veio andando de linha fora sentiram falta pela Renata, Celinho. Só sei que eu perguntava para o Anésio: “onde ta os meninos”. Ele dizia que tinha caído tudo, como fiquei preocupada pra onde eles foram. Só sei vieram plantar. A gente fomos parar em Petrópolis. Aí veio andando e veio dando aqui. Aí eu vim também. Eu pensando e andando “vou atrás das minhas filhas”. Aí fale: Anésio, pra onde elas foram. Vim andando até aqui. Foi quando a minha filha Irene, também tava aqui. Aí ela disse que, tinha que ter ido embora. Aí o Anésio ficou lá sozinho. Ele não queria sair. Aí eu vim aqui. Minha filha disse: “minha mãe, não vi ninguém”. Não tem ninguém aqui. O pessoal carregando aleijado. Aí depois voltou pra saber onde tava. No outro dia menina que eu fui saber, o agente da estação saiu levando todo mundo, que elas estavam bem e que ele levou todo mundo lá pra Petrópolis. Aí ta bom, de que jeito que eles foram eu não sei. Gostei muito de morar em Campos Elísios.
1 – A senhora lembra de algo a cerca da marginalidade e bandidagem por aqui?
2 – Por aqui nunca acontecia isso. Depois é que foi aumentando o povo. Porque aqui não tinha quase ninguém, aí que foi chegando o povo. Uma casinha lá, outra lá, o pesoal aí, aí que começou esse negócio de assalto. Custou muito pra acontecer isso. Conforme foi aumentado o povo, é onde aumentou. Não tinha não, era um lugar sossegado. A água era boa, as águas daqui era linda.
1 – Qualquer lugar que a senhora cavava poço, dava água muito boa...
2 - Os meninos tomavam banho no rio. Não tinha um lixo lá dentro da água. A gente ia pegar madeira, eu com um barco, e ele com outro eu e meu velho. Ia lá na mata ele cortava e ele ia com ele pegar.
1 – Na mata do Ticândio?
2 – é do Tio Cândido... É aquele homem que tava aí, morreu
1 – Dizem que ele sumiu no Rio... Por isso que colocaram o nome na mata de ticândio
2 – Eu nunca esqueci daquele home, uma pessoa tão boa, olha, no tempo dele essas vala aí tava tudo limpa, essas vala aí ficou tudo suja, tudo entupida, aí. A gente nunca soube que que houve com ele. Aí sumiu, nunca mais soubemos dele.
1 – A senhora entrava na mata para pegar umas coisas, fora a madeira?
2 – Não, nada
1 – Então ta bom, D. Liberalina, Obrigado por tudo... Obrigado pela atenção. A senhora tem mais alguma coisa importante, que a senhora acha?
2 - É que eu gostei muito daqui. Achei admirado, de onde eu vim cheio de morro... Bom Jardim, fiquei admirada, né.... Uma baixada, né. Olhei em volta e pensei: “onde vim parar”. Não acreditava. Lá cada volta que a gente dava, só morro, né. Eu gosto daqui, o que gosto das minhas plantações. Se pudesse voltava a plantar.
Antigo "rala-coco" que atualmente é o terreno que o CIEP Darcy Vargar ocupa - foto de 1982 |
Entrevista a princípio com Sr. Epídio, uns minutos depois Sr. Osvaldo e Sr. Edson.
(moradores antigos de Saracuruna e Cangulo)
1 – Antonio
2 – Sr. Epídio
3 – Sr. Osvaldo
4 – Sr. Edson
1 - Essa casa foi o senhor que construiu?
2 - Comprei o terreno em 70, comecei construir a casa em janeiro de 70, em agosto de 70 entrei pra dentro.
1 - Veio pra cá em agosto de 70?
2 - Não tinha piso, não botei brita, no meu tempo era brita, não tinha portões, nem telhado.
1 - O senhor morava onde?
2 - Morava num barraquinho ali do meu irmão.
1 - Aqui mesmo no Cangulo?
2 - É, ele morava lá, ele queria consertar o barraco, mas não dava.
1 - E quando o senhor chegou nessa casa aí? Eu
2 - A casa eu cheguei em 66.
1 - O senhor veio da onde?
2 - São José dos Barros
1 - Isso é o que? Minas?
2 - Não, é Estado do Rio.
1 - É Estado de Minas mesmo? ... perto de Campos?
2 - É depois de Campos, perto de Itaperuna.
1 - Como o senhor veio parar aqui?
2 - (risos)
1 - (risos) Senta aí, é melhor pro senhor ficar sentado. Como o senhor achou o Cangulo, como veio parar aqui?
2 - Eu tinha um, uns irmãos que moravam ali na agropecuária, na ponte branca. Isso tudo fui eu que plantei.
1 - Chegou aqui não tinha nada.
2 - Isso aqui fui tudo eu que plantei, esse pé de manga, fiz as miudinhas e plantei, esse pé de jaca já era velho quando eu cheguei em 56.
1 - Mas o senhor veio fazer o quê em 56? O senhor já veio pra
2 - Em 56 eu vim a primeira vez pro Rio
1 - Mas pra cá no Cangulo?
2 - Não, não, não, eu morava em Campos Elíseos no Itaqueri, aí depois voltei e fui embora. Não me dei bem aí. Depois ??? e voltei pro Rio, vim pra cá.
1 - O senhor foi a primeira vez porque não conseguia trabalho?
2 - Aqui é bem difícil trabalho, meus filhos hoje, felizmente estão todos com a sua casinha velha, estamos separados desde 75, ela lá, agora já adoeceu e eu tomo conta da casa, aquerla ali é do meu filho também.
1 - O senhor veio para cá ???
2 - Em 66, em 01/04/1966, aí teve até, até 70, em 70 mudei pra aqui
1 - O senhor lembra das famílias quem morava aqui? O senhor lembra das pessoas.
2 - Lembro que morava o Pedro, coisa, seu irmão, Joaquim, seu Marcos era o mais antigo, seu Marcos, seu João, isso aqui era um cafezal, ali não morava ninguém, seu João Bigode morou, hoje graças a Deus nós pode dizer que somos uma cidade.
1- Seu Afonso já estava aqui quando o senhor veio?
2 - Já, seu Afonso tava.
1 - Seu Aldo?
2 - O Aldo morava também. Já o Aldo
1 - Seu Noel já tava?
2 - Não o Noel veio depois, ali morava pouca gente. Graças a Deus foi habitando. Hoje já ta tudo havitado, tem ??? até ??? como é que se chama o nome dele... seu Lúcio, um coroa muito bacana.
1 - Seu Lúcio do futebol?
2 - É.
1 - O senhor veio pra cá e trabalharia em que?
2 - Carpinteiro, eu trabalhei na roça, era parafina. É aqui era parafina.
1 - O senhor trabalhava aqui próximo, ou o senhor ia lá pra Guanabara?
2 - Trabalhava só no Rio? Leblon, Copacabana, Ipanema.
1 - O senhor ia de trem ou de ônibus? Como é que era?
2 - Não tinha ônibus não.
1 - Só era trem?
2 - Ia a pé pra Saracuruna.
1 - Já se chamava Saracuruna, quando o senhor veio pra cá?
2 - É, já chamava Saracuruna.
1 - Pegava o trem... ia lá pra...
2 - É pegava o trem 3:30... da manhã
1 - 3:30 da manhã! Então o senhor saía daqui 3 horas da manhã.
2 - Tem um colega que chegou aqui ???? um cara bacana, cara danado, companheiro.
1 - Mas pra ir para lá o senhor tinha que ir andando até Saracuruna.
2 - e se tivesse chovendo, tinha que ir de short até lá, não podia passar na rua.
1 - Essa rua era como é hoje?
2 - Era só caminho
1 - Tudo bem?!
2 - Aí seu Toninho!
3 - Como vai o senhor?
2 - Isso é amigo, irmão.
1 - Eu conheço ele!mora do lado da igreja lá. Quando o senhor chegou aqui, ele já tava aí?
2 - Não, veio depois
3 - Não eu vim pra cá em 60.
2 - Mas velho que eu!
3 - Isso aí não tinha nada. Sou o morador mais velho daqui, do Cangulo. Em loteamento eu sou o terceiro, primeiro foi o Lecy, o ferroviário, depois o Zé Titica.
1 - Então é bom que não perco seu tempo aqui? (risos)
2 - (risos)
3 - (risos)
1 - Não ri, mas aí, como na época de vocês, as ruas eram caminho?
2 - Quando eu vim pra qui, não existia loteamento mais bonito que esse!
1 - Eram abertos do tamanho que é hoje?
3 - Do tamanho que é hoje.
2 - Eram mais que essas ruas aqui
3 - Essas ruas aí, não tinha assim. Isso que tinha um trator e 12 ???, tudo abertos, até lá embaixo.
2 - Depois fechou, e o...
3 -Abriu de novo e começou a vender em 70.
2 - É foi aí que eu comprei
1 - O senhor lembra os primeiros que botaram comércio aqui?
3 - Oi!
2 - Oi!
3 - Oi!
2 - Tudo bem patrão?!
3 - O primeiro que botou foi o seu Álvaro.
1 - Onde?
3 - Em frente a Igreja Batista.
1 - Aquela barraquinha que tem lá até hoje?
2 - O Manuel português?
3 - Essa daí do Zé, foi aberta o ano passado, a do seu Álvaro foi em 65. Por cima de muitos anos, depois foi embora.
1 – O senhor lembra dele?
3 - Depois dele eu não conheço... ali por perto, onde tem uma porção de criança, tem outra barraca, perto do ??? tem o comércio.
1 - O pessoal trabalhava aqui, chegava a cultivar ??? a ter criação?
3 - Não, aqui não, o que tem é cavalosolto, fora isso, não tem aqui no Cangulo não.
1 - O senhor lembra quando veio algum transporte pra cá?
3 - Ah! Lembro, mas não lembro da época certa, foi... mais ou menos na década de 70.
2 - Aqui pra dentro?
1 - Foi depois?
3 - Não, aqui nunca teve lotação não, a lotação que tinha ara até 63 de Saracuruna a Caxias, hoje é Trel, antigamente era rota primavera, linha 3, lotaçãozinha.
1 - Mas não vinha pra cá pra dentro não?
2 - Eu vim pra aqui em 67
3 - Me parece que o ônibus começou em 73.
2 - Os ônibusinhos era lá fora.
3 - Não, não era ?? não. Você ta fazendo confusão.
3 - Era rapto primavera
4 - Quem lembra destas datas todas é o Jozão, ele era motorista.
1 - É, eu vou conversar com ele depois.
2 - Eu sei que foi nos anos 70.
3 - Foi de 70 ou 73.
2 - Depois que eu mudei pra cá, andei muito até saracuruna a pé.
3 - Quando aquele ônibus que capotou ali em frente a barrado Cezar, eu tinha ??^? eu tava morando na casa nova, na casa da frente.
1 - Em frente a Metodista?
3 - Capotou ali naquela esquina, foi em 73, agora não me lembro quando chegou .
1 - Morreu alguém ali?
3 - Não, na hora não morreu, alguém não, mas depois morreu dois.
1 - O senhor lembra se veio jornal?
2 - Não veio nada! Quem tava dirigindo era o trocador.
1 - Por que a rua prin... aquela rua ali era a principal? A rua BG ???
3 - O ônibus do Cangulo a linha era na rua BG, ia até o Bigode, perto do verdinho na Igreja
1 - Já tinha aquela igreja ali?
3 - Não.
1 - As primeiras casas foram construídas na direção da rua BG?
3 - A primeira casa construída aqui no Cangulo, foi aquela em direção a Igreja Batista, fui eu quem construiu.
1 - Ah! Que tem um terrenão grande?
2 - É. A segunda pra cada ??? do quarto lote que eu moro, a de lá aonde mora o Julião que tem problema nos pé?
1 - Sei, sei.
3 - É aquela.
1 - Do lado de lá não tem nada?
3 - Tu lembra do Periquito.
1 - Vocês perto da onde?
3 - Onde é o Cirilo Hoje.
1 - Perto da lagoa?
3 - Depois da lagoa.
1 - Na rua, rua do ônibus mesmo?
3 - Não, ??? a rua do ônibus vinha pra direita.
1 - Sei, sei, lá onde tem o campo hoje?
3 - É o mais antigo, era uma porcariazinha, malcriado, ele passava com a bicicleta, e dizia assim: “vou passar por cima!”, aí eu falava: “se você passar por cima eu te pego pelo roda.”
1 - Ainda dava pra brincar!]
3 - É o time dele era o Periquito.
1 - 79 veio a energia elétrica?
3 - a energia começou a ser instalada aqui no Cangulo em 76, essa parte daqui não tinha energia, ela vinha por ali, aqueles postes quadrados, por aqui não tinha energia.
1 - Esses postes vinham desde a rua dos postes?
3 - Ah! Vinha lá da rua dos postes
4 - Até mesmo nessa rua foi em 79.
3 - em 72 o Guerra, que era diretor da Shell, um dos moradores mais antigo, tinha o mapa de todos os loteamentos. (você arranja 10 que eu vou eletrificar da rua BG até a rua BC, aí dei, disse que só consegui três, aí ele veio e disse que não dá, mas não dá porque a verba já tinha saído, ele era o diretor, pegava aquele pedacinho da rua da Igreja Batista, passou uns cinco anos, aí comelou a espalhar a energia e a rua BG ficou, aí eu fui lá reclamar, aí ele disse que a rua BG estava eletrificada, aí falei não, aí fui no áster lá em Niterói reclama.
1 - Áster Pereira das Neves
3 - Isso! Não, Pereira dos Santos
1 - O nome da escola.
2 - O próprio. Então, Astério Pereira das Neves.
1 – Eh! O próprio. O seu Astério fazia o quê?
2 – Ele era um enteujão de político, brigão... feito um danado! E até levou ele a morte, levou ele a morte!
1-Por quê?
2 – Por causa da política...pô. Mas, um tal de Pereira que tem aí... um era baiano, o outro era pernambucano, todeos dois eram brabos pra daná, todos militar. Então vamos brigar! Chegando lá o diretor disse: “não estava então eletrificadas”. Aí eu contei a história para ele. Falei, aconteceu assim...
Ele disse: “Você tem certeza?”
Eu disse: Oh! Chama o Guerra aqui que vou falar na frente dele. Ele ainda era diretor da CERJ. Aí resolveram. Fizeram um novo contrato para fazer aquele trecho que constava eletrificado. Foi lá, na nossa rua, foi uma das últimas a serem asfaltada.
1 – Como muitas ruas que antigamente diziam que eram asfaltadas...
2 – Não o asfalto da rua BG, aquele ali, saiu do papel faz muitos anos. Na ápoca que o Erasmo era candidato.
1 – Erasmo era quem?
2 – Ele era candidato a vereador, saiu para eletrificar até lá no colégio. Ele pegou e fez asfalto até o campo do vasquinho e o resto ele levou lá para rua Santa Cruz.
1 – Isso não foi no Chagas Freitas, não?
2 – Não isso veio depois.
1 – Lacerda?
2 – Não tenho muita certeza não. Mas acho que foi o Lacerda sim. Foi quando Lacerda foi Governador do Estado.
1 – O senhor lembro quando foi construída a escola? Com o nome do Astério?
2 – Aquele ali era Associação de Moradores.
1 – Não era escola municipal.
2 – Não era associação de moradores, aquela escola foi feita pelo associação de moradores.
1 – E quem fundou a associação, foi seu Astério?
2 – Aquilo era uma briga de foice do caramba.
2 – Era o Astério, Francisco de Elói, era o Afonso, Dr. Carneiro, que era asvogado...toda reunião que tinha era um brigueiro desgraçado.
1 – Carneiro, vem de Dr. Carneiro.
2 - Que o pessoal chama ali de Carneiro por causa deste Dr. Carneiro.
1 – Mas a escola funcionou antes de ter escola pública? Com associação?
2 – Quando fez a escola, ela passou a ser da prefeitura. Pela associação ficou sendo grupo de D.C.
1 – Começou pela associação, e depois pasou para prefeitura.
2 – Era um crioulo grande, fora de sério, Seu astério. Fez muita casa pelo Cangulo.
1 – Conheceu ele?
2 – O que? Se teve um homem que valorizou o Cangulo, foi o Astério. Ele não brigava não. Ele chegava e botava peito. Ele morreu por isso. Segundo o delegado, ele só morreu porque foi burro, cano de revólver silício S 38, começou a andar com revólver no bolso, foi isso que matou ele.
Porque todos conheciam um ao outro. Eram do mesmo quaartel, todos dois tinham disponibilidade. O Astério e o Pereira. Ele falou por aí que ia matar o Pereira. O cara correu em Imbariê e falou para o Pereira:.” Oh! O astério, vai matar você”. Ele disse: “ Eu voi é agora” E aí, quando soltou do Celetinha, um carrinho velho, falou assim: “Astério venha!Quando o Astério mandou o revólver, ele mandou o branco em cima do peito. Ele não sabia com quem estava lidando, ele tinha um braço desta grossura. Nisso o Astério puxou. Foi um pra lá, outro pra cá na rua. Só que o revólver do Pereira não tinha sido acidentado. O tiro que ele deu pegou no bico da maminha do Pereira, fundou o osso do peito e fez isso... sorte que conseguiu passar do oso dele. E o do Pereira, filho... O tiro do Pereira foi nos cornos. Aí foi aquela barulhada.
1 – Mas, quando o senhor veio pra cá, vocês chegaram a presenciar, fora essas brigas políticas, tinha alguma marginalidade? O pessoal vendia alguma coisa?
2 – Não, aqui antes era o céu. Ninguém mexia com ninguém. Aliás, o pessoal daqui não mexe com ninguém. Eles tem os problemas deles para lá, mas não mexe com ninguém, não.
1 – Antes do senhor morar aqui? O senhor morava onde?
2 – Eu morei na Primavera, durante quatro anos. Vim do Estado de Minas, ali na Rua 18, segundo São Paulo, perto da Rua que faz esquina com Pernambuco. Vim lá da Primavera para o Cangulo.
1 – E o senhor morava onde antes de vir pra cá?
3 – Eu morava em Caxias.
1 – E como o senhor descobriu o Cangulo? Loteamento também? O senhor viu o anúncio?
3 – Estava distribuindo panfleto lá na praça. Eu estava pasando, peguei...
2 – Eles traziam o pessoal aqui pra ver.
1 – O senhor lembra quanto pagou no terreno?
2 – Tinha uma lotação que trazia para mostrar o terreno.
1 – É igual ali no Jardim anhangá, que o pessoal bota loteamento e vão lá comprar.
2 – É. Uma boa parte do Jardim anhangá foi vendida pelos corretores daqui.
3 – Eu comprei a CR$ 6.300,00.
1 – Aí recebeu a papelada?
3 – Não, isso demorou muito. Esse terreno comprou na mão do corretor demorava uns cem meses.
1 – Deve ter gente pagando até hoje.
3 – É, eu cheguei para lá da Igreja Batista, eram quatro lotes. Era 4, 5 merrés por mês. Era 400 mil, não 40... daquele outro dinheiro que eu não...
1 – Não era cruzeiro não?
3 – Isso, 400 por mês para pagar. Eram 100 meses, né. O meu eu paguei em quatro anos e pouco. Eu não ia lá em Botafogo pagar uma prestação. Eu pagava era o ano todo de uma vez.
1 – Seu Epídio e o senhor?
2 – Foi 1.300 cruzeiros.
1 – O senhor tinha filhos? Quantos?
2 – Tinha todos eles, seis filhos. Um nasceu aqui em casa mesmo. Aqui não tinha hospital não.
1 – Vou chegar nesta parte... calma! As crianças estudavam. Chegaram a estudar?
2 – Sim.
1 – Onde?
2 – No carneiro. No Astério mesmo. Eles não quiseram estudar. Foram até a quarta série.
1 – A escola mais próxima qua tinha era a do Carneiro?
2 – Era a mais próxima e a melhor também.
1 – Perto da Igreja não tinha?
2 – Não, aquela veio muito depois. Pedro Rodrigues, Pedro Jacinto...
1 – Pedro Jacinto já tinha?
2 – Não, veio depois, Parque Moderno. Só em 89, 92...
1 – Parque Moderno... D. Vera teve lá 29 anos. Então não foi em 89. quando ela morreu, ela tinha 29 anos de diretoria.
2 – Não. Eu estava trabalhando na ?? . Que Parque Moderno que você fala?
1 – Do lado do Nininho.
2 – Ah! Aquela ali é muito antiga. Minhas crianças quando saiu daqui foi estudar lá.
1 – Me disseram que ela era pública de dia e particular à noite. O senhor lembra?
2 – Minhas crianças saíram dali para estudar naquele colégio perto dda linha, na passagem de nível.
1 – Cedubrás.
2 – Isso! Eles foram para lá.
1 – Por que na Cedubrás tinha 2º grau de secretariado... formação de professores... O senhor chegou a conhecer a D. Elsa, a dona?
2 – Se conheci? Claro. Ela até gostava pra caramba das minhas crianças.
1 – Ela ainda te viva, mora em Piabetá. Eu voi entrevistar ela. O senhor lembra como as crianças iam pra escola, como era o uniforme? Né, Cedubrás?
2 – se não ia de uniforme, iam pelados. Só sei que eles estudavam lá! Mas elas tinham uniforme sim no Cedubrás.
1 – Era aquela jardineira
2 – Veio aqui, pra pegar madeira, aí lá mudou o uniforme.
3 – Era aquele uniformezinho, azul e branco.
4 – Parece que era ele mesmo.
3 – Blusinha branquinha
2 – Exatamente!
1 – O pessoal que morava aqui, o senhor lembra em que eles trabalhavam?
3 – Isso aqui era um bairro dormitório.
1 – Trabalhava tudo na Guanabara?
3 – Dormia aqui e trabalhava lá pra baixo
1 – Não era muito diferente de hoje. A maioria trabalhava tudo lá pra baixo.
3 – Era um bairro dormitório, o pesoal vinha aqui só pra dormir.
2 – Eu trabalhava lá na Reduc, na Montreal Engenharia S.A.
1 – Trabalhava na construção da Reduc?
4 – Não, não, não, quando eu vim trabalhar na Reduc, eu vim pela Montreal, pra fazer aquela... aquela chaminé
1 – Então, quando o senhor veio pra cá já tinha a Reduc?
4 – Reduc explodiu aí em 72, eu, eu morava em Gramacho, trabalhava lá dentro.
3 – A Reduc foi inaugurada no governo de Juscelino, Juscelino foi que inaugurou a reduc, eu trabalhei em 60 a 63 na Reduc.
2 – Em 56 começou a sondagem da Petrobrás. 3 – Não, passei pra Reduc, pra Petrobrás, porque o salário dela era muito reuim, a empreiteira pagava o dobro dela, principalmente essa que ele falou aí, a Montreal... Montreal era uma empresa assim... na carteira ela te pagava um salário, agora as vantagens que você tinha por fora era muito grande.
4 – Além dos 30%.
3 – Era muito grande a vantagem que você tinha por fora, então ninguém queria trabalhar na Petrobrás, olha... eu fui pra Reduc, primeira leva, eu fui pra Reduc, no caminhão, ih! Doze homens. Cheguei na segunda feira, pra trabalhar específico na válvula, naquela tubulação de Xerém, a primeira semana veio só ele e o caminhão. Eu fui lá na empresa, o nome da empresa era Silvio Santos, fui lá e o engenheiro mandou mais doze homens. Na mesma semana eles passaram tudo pra Petrobrás, em vez em quando eu falava: “Voc|ê ta maluco, mais eu to dando tudo de vocês, você sabe quanto o salário da Petrobrás subiu?” Em 78 eu ganhava mais do que eles na empreiteira, aí veio a equiparação de salários, aí eles foram embora, aí nós oh!
1 – O senhor trabalhou em 50, 56?
3 – Eu trabalhei nas empreiteiras, trabalhei 29 anos na Petrobrás.
1 – No ano de...?
3 – 60, 60... nesses vinte e nove anos trabalhei três anos na Ultragás, quatro na Petroflex... ou na Reduc!?
1 – Quanto anos então tem de fundação Cangulo|? 50?
3 – O certo eu não sei, eu sei que fui o segundo a comprar o terreno, e comprei em fevereiro de 63, eu fui o segundo a comprar, o primeiro foi o Leci, ferroviário, depois o Zé Corretor.
1 – O Levi tem parente aqui hoje?
3 – O Levi já morreu há muito tempo, não tinha descendente, era um solteirão ferroviário.
1 – E o pessoal do Sr. Marcos? É quem?
3 – O seu Marcos é pai do Helinho, o senhor conhece o Helinho?
1 – Conheço.
3 – É ele. Seu Marcos aqui no Cangulo, com três burrinhas. Quando eu comprei em 63.
4 – O cara que ta com o mapa aqui de dentro ta com 67 anos.
1 – Pode ter o planejamento, pode ter isso...
3 – A ocupação. Chea a ocupação aí mesmo.
1 – O senhor lembra a primeira igreja que chegou aqui, ou qualquer instituição religiosa?
3 – A primeira igreja levantada aqui no Cangulo, foi a Igreja Batista, na quadra 11, depois, que ela foi pra lá. (Rua BG)
1 – Ali do lado onde foi a D.Liberalina?
3 – Era pra aquele canto ali, perto do Carlinho. Não tem uma Assembléia de Deus ali, depois do Carlinho, entrando para a esquerda.
1 – A Nosa Senhora das Neves do morro não é a mais antiga?
3 – Qual?
1 – Nosa Senhora das Neves no morro, a católica.
4 – Isso aí, não é não, eu cheguei em 15 de fevereiro de 78.
3 – Aquela igreja ali foi feita pelos padres brasileiros.
4 – Não era do tamanho que é hoje...
3 – Era, era... Não, não, não, nunca houve problema. Eu fiu diácono da Igreja Presbiteriana, aqui de Saracuruna, durante 28 anos. Nunca houve conflito nenhum, aqui não.
1 – a conviência era pacífica? Algum problema de racismo?
3 – Não aqui... não, nada.
2 – Graças a Deus, os escuros que tem aqui, são os escuros branco.
1 – Por que escuro branco?
2 – Porque tudo disciplinado, educado, tido preto branco, são gente bacana.
3 – Oh menino! Qualquer coisa que houve aqui uns com os outros, é aquele que procurou e achou, você sabe, quem procura acha e não perde tempo. Mais aí oh!, ele aí, com nós três aqui, nunca houve probrema.
1 – O senhor consegue lembrar a primeira ocorrência de roubo, bandidagem?
3 – Isso é muito difício, isso aqui, esse negócio de estrupo, foi feito pela própria guarda. Uma guarda que criaram aí.
1 – Municipal?
3 – Isso, foi feito por eles mesmo. Antes deles vim não tinha problema nenhum, foi eles vim na outra semana começou. Aí fizeram uma revolta com o pessoal da Primavera. Vieram aí mataram eles tudo. Quem não saiu pra fora ficou aí de cara pro alto.
4 – Mais precisa ter registro?
1 – Não, eu voi pegar no Jornal da época, e ocorrência ou registros.... O senhor lembra da enchente de sessenta e pouco aqui?
3 – Primeiro em 64. A rua BG tinha que passar com água no joelho. E era uma das mais altas. Em 65 pior, em 64 foi oito dias e oito noites, em 65 foi uma noite e um dia. A minha casa lá em Primavera... foi por isso que eu vim pra cá. Em 64 deu um metro de água em casa, em 65 um metro e trinta. Um metro e trinta, isso aí. Quando a água baixou, foi quando eu vim pra cá... falei com a coroa... vamos pra barraquinho de estuque.
2 – Coroa nada, ele casou com uma garotinha.
1 – Ta registrado.
3 – Qando o água baixou eu fui buscar as minhas coisas e vim.
2 – Teve uma corrente de roubo aí em 81. Aqui embaixo do barraco era até tábua, levaram tudo da mulher. O cara levou em carroça. O pesoal veio aí, e falaram quem era, como era e onde tava. Chegou lá o cara tava dentro do barraco, com todas as coisas dela, com tudo da mulher. Os homem pegaram ele, não trouxeram no carro não, veio trazendo ele, quando chegou aqui na esquina, no final da ponte, o pesoal tava alio revoltado, tava cheio de gente. Aí foram chegando, chegando, aí tomaram o homem da mão dos homem. Pegaram aquele poste que tem na frente do Albertino hoje, tiraram a roupa do cara, penduraram ele lá e meteram o pau, os homem não falaram nada, tava lotado.
1 – Foi esse que arrancaram cabeça e jogaram na sinuca do seu Afonso? Lembra diso?
3 – A cabeça dele veio de outro lugar...
1 – Mas o senhor lembra por quê?
3 – Não, ladrão de porco.
1 – quer dizer que eram especializados em porcos?
2 – Era sim.
1 – E água, como vocês faziam, era de poço?
3 – Vou dizer uma coisa, pode ter água de rua aqui, que eu dispenso. Pode passar aí a tubulação igual a esa aí da Washington Luís, que eu não quero água. Inclusive em 76 veio uma comissão da CEDAE com engenheiro, vieram procurar o morador mais antigo, eles chegaram lá em casa, com a varanda grande lá no fundo, queriam descobrir a Aenida das Palmeiras, essa daqui, ó... Hoje é Lopes da Veiga. Na época do loteamento era cheia de coqueiro, aqui no campo também, isso aqui era uma avenida linda e tudo quanto é lado tinha dendê.
Eles vieram lá em casa e o engenheiro da CEDAE... inclusive o Robson, hoje o Pastor Robson já trabalhava, ele que falou comigo, chegou dizendo: “o senhor pode arrumar uma água pra nós? Olha, posso arrumar, mais a geladeira aqui é o poço.” Não tinha energia, aí eles falaram: “não, nós tamos com sede” aí eu tinha um filtro grande enchi os seis copos duplos de água e ele disse: “isso é água tratada” aí eu disse: “se a água é tratada, o que vocês estão fazendo aqui, então? Vocês não vieram instalar a água?” Isso foi lá pra mais ou menos em 76. Aí eles diseram: “a gente pode ver o poço?” fiz até com setenta centímetros de fundura, manilhei até em cima.
Você jogava uma moeda nele e via ela ficar pequenininha. Aí o Robson disse: “Mais tem um detalhe, se botar água da rua aqui você vai ter que vedar esse poço aí” Aí eu falei: “então esquece, eu não quero” Nem chegou. Eu vou morrer e não chegou. Aí ele abriu o mapa em cima da mesa, a água vinha do campo do vasquinho, pegava a rua da igreja aqui, passava aqui, depois ia pela rua do Afonso, mostraram tudo direitinho, perguntaram até se eu fazia o mapa pra eles, falou pra tirar uma xerox, até ontem eles não vieram, porque hoje eles podem chegar ainda.
1 – E o mapa o senhor tem ainda?
3 – Tenho. O Helinho tem.
1 – Da época do loteamento?
3 – É da época do loteamento
4 – Já eu tenho do Ana Clara...
1 – Vocês se reuniam pra fazer alguma festa? Se reuniam?
3 – Vou dizer, eu não gosto de bagunça, sempre gostei de ficar sozinho, eu fui criado assim, nunca gostei de muvuca. Sabe por quê, um fala uma coisa que não presta, o outro fala pior, aí eu não gosto, pronto. Aí acaba você não prestando.
2 – Vai se misturando, né.
3 – Não sei sua religião, eu to fora do Evangelho tem 40 anos, to fora, mais vou dizer: A única festa que não se via bagunça não, era festa de evangélico, não é o que se vê por aí não. Era reunião de verdadeiro cristão, reúne aí Nilson, Arlindo e não vê aborrecimento com ninguém. Agora qualquer outro tipo de festa é pra trazer aborrecimento.
1- O senhor lembra qual a primeira igreja católica a se formar aqui? Foi a São Francisco ou a São José?
3- Vocês esta falando aqui dentro do bairro?
1- É minha pesquisa vai ser do vaasquinho pra cá
3- Ah! Então foi a São José....
1- Foi em que ano?
3 – Eu lembro porque quando eu vim pra cá...
1 – O senhor veio em 70?
3 – Não. Morar aqui eu vim em 72. Mas o terreno, eu comprei em 71.
1 – Já tinha a Igreja?
3 – Já tinha a Igreja.
1 – O senhor lembra mais ou menos o ano?
3 – Foi mais ou menos nessa época e aumentaram muito ela. Ela era pequena, agora é uma Igreja de tamanho razoável. Tem diversas atividades que funcionam bem. Tiro pelo meu sobrinho Luís. Se não é aquilo ele tava de baixo da terra.
1 – Ta falando dos alcoólicos anônimos?
2 – Igual ao Ernani, só vivia num bar. Agora vai lá na Igreja.
1 – Você se lembra de alguma historio do povo contar, lenda, alguma coisa assim? Do tipo animal arranhando a porta dos outros?
3 – Lenda não vou falar não, que eu não sei isso não.
2 – Já tenho passado poucas e boas aqui.
1 – O senhor não pode contar pra gente?
2 – Poder até pode. Mas já ta mais pra noite.
1 – Mais por que é muita coisa? Eu só tenho doze horas de gravação, só? Esa daqui dá pra gravar dezoito horas seguidas.
3 – Isso aqui rapaz, não é só eu, tem outros colegas meus... Tem uma lanterna mágica aqui dentro... O primeiro que viu fui eu. Você já ouviu falar no Zé retratista?
1 – Não.
3 – O Zé Facão, Zé Retratista, que trabalhava na Prefeitura, e montou uma serva pra caçada, aí era umas onze e meia, tinha uma moita de espinho, eu tinha matado um tatu, aí ele cortou de facão, passou no meio em cima da serva dele e foi embora. Ele coçou a cabeça e ficou intrigado, ele foi lá olhar e não tinha nenhum ramo lá cortado. Na outra semana eu voltei. Chegou uma base de meia noite, veio uma lanterna, só o foco da lanterna, folha seca um monte, não fazia nenhum barulho, só a lanterna, vim embora e não passou nenhum bicho aqui. Aí eu vim atrás da lanterna, mas não vi o cara. Não tinha ninguém, era só a lanterna. Foi no morro, um monte de perdorba seca e a lanterna passou não fez nada, não fez barulho.
2 – Outra eu passei ali na pedreira.
1 – Conta pra gente?
2 – A gente passou um perrengue. Perrengue não por que eu não tenho medo. Hoje eu já vou pra 75 anos e meio...
1 – O que foi que o senhor viu?
2 – Foi um clarão, a lanterna passava e ninguém via nada. Porque não era ninguém, o negócio estava no alto, passava dentro do mato, isso é mistério. Todo lugar tem um mistério, aqui não é diferente.
3 – Lá onde está o bambu, dizem que ali foi lugar de escravos, refúgio.
1 – Nessas caças, o senhor chegou a ver alguma coisa?
2 – Tem alguma coisa, mais não chega a assustar, não é?
1 – O que era?
3 – a gente não via não, a gente ouve.
1 – O que é que o senhor ouviu?
3 – O mesmo que ele via aí. Na terra andando. Na terra andando.
1 – Mais de uma vez?
3 – Mais de uma vez.
1 – Todas as vezes que vocês vão?
3 – Não, não, isso ele ouviu por acaso. Isso acontece.
1 – Vocês ouvem alguém falar alguma coisa?
3 – Não, não ouvi nada, só a lanterna passa, passou a lanterna pode ir embora. Não pia um bicho, não passa rato, não voa passarinho, não voa mais nada.
1 – Isso vocês estavam lá que horas?
3 – Uma meia noite, e não tem hora também não. É de 11 horas. Não, de dez e meia em diante.
1 – Vocês conheceram o Tio Cândido?
3 – Ih demais. Um grande homem o Tio Cândido, e me lembro até quando ele mudou pro Parque Independência, eu tive na casa dele lá, no Parque Independência.
1 – Quando o senhor veio pra cá, ele já estava aqui?
3 – Quem?
1 – Tio Cândido?
3 – Já, não, já um ano depois do Tio Cândido vinha lá do Espírito Santo.
2 – Ele não é parente do Jassão?
3 – Não, não, eles moravam todos dois na Fazenda Bom, o Jassão era retilheiro, primeiro Jassão foi criado na casa dele, foi criado na casa do Tio Cândido, mas o Jassão veio pra cá primeiro do que ele, veio primeiro.
1 – É por isso que chamam aquela mata lá atrás de Ticândio?
3 – Justamente, lá o morro é do Tio Cândido, lá dentro da mata tem muita plantação, Tio Cândido plantou laranja, mexerica, lá tinha tudo, qualquer lugar que você andar, você vê pé de limão e de laranja da terra,
4 - Não adiantava você ir com destino de trazer tudo, que você só trazia o que podia, tinha demais. A tal da tangerina então o cara não saía nem do pé, era demais. Agora a sunga da jade (praga) acabou com tudo, só não conseguiu acabar com o abacateiro e a jaqueira, laranjeira, mexeriqueira, acabou com tudo, ainda ta só não produz mais.
1 – Tem alguma coisa assim que vocês lembram, querem falar pra registrar, pra ir pro livro
que vocês acham importante, que vocês viveram aqui?
3 – A gente só teve momentos bons, até hoje, eu por exemplo só tive momentos bons.
2 – Tive problema que em 1999, agora recente, eu fui atacado lá dentro do mato por um maluco aqui, a orelha aqui levou doze pontos, aqui levou dez, na cabeça levou quatro, não foi nada lanterna, foi gente mesmo, a gente chega a ter medo de gente, assombração não. O cara não bate bem da cabeça, foi o tal do marawá.
1 – Ele estava com a foice?
2 – Tava, eu armado não fiz nada com ele, levei nome de covarde, em Campos Elíseos, o delegado falou: “Você é muito covarde, você não tem coragem de matar uma barata, você mata o cara a dente”. Aí eu disse: Não senhor, eu sou contra a violência, não poso cometer tal, se eu cometer violência eu sou pior, não posso, sou contra.